
Allan Ezra Marcos
@allanmarcos_18
Algumas reflexões sobre a proposta do presidente dos EUA para Gaza: 1.Veja a imagem anexada de uma das encenações da libertação de reféns. O que o presidente corretamente percebe é que Gaza não tem um problema geográfico objetivo. Não é um deserto isolado, sem saída para o mar, assolado por secas. Está localizada em uma belíssima região do Mediterrâneo, com areias macias do delta do Nilo. Fica na encruzilhada de duas antigas rotas comerciais. Conectada por ferrovia a Israel e ao Mar Vermelho, poderia até rivalizar com o Canal de Suez (será que isso também faz parte do cálculo?). Possui reservas energéticas. Tem tudo para ser um polo de comércio e turismo (e uma base militar americana?).
O único problema de Gaza é político—sua população está comprometida com uma ideologia de destruição (alimentada por organizações como a UNRWA), priorizando destruir o que os judeus construíram ao lado em vez de construir para si mesmos. O que o presidente parece notar é que os habitantes de Gaza poderiam ter criado algo extraordinário nesse pedaço de terra, mas optaram—e essa é uma escolha ideológica—por transformá-lo em um campo de batalha armado com um único propósito: destruir Israel. Ou seja, o presidente enxerga o que palestinos, egípcios e até jordanianos já deveriam ter percebido há muito tempo: Gaza é um território extremamente valioso—se, e esse é um grande se, a política puder ser desviada da destruição para a construção, tanto figurativa quanto literalmente.
2 - No entanto, o mundo árabe já conhece bem as grandes ideias americanas de projetos de desenvolvimento para resolver a questão dos refugiados árabes e superar guerras. O que os países árabes fizeram no passado com essas propostas grandiosas dos EUA, desde os anos 1950, foi simplesmente pegar o dinheiro, sequestrar a agência que deveria executá-las (a UNRWA), não construir nada e perpetuar os refugiados árabes por gerações, transformando-os no povo palestino—uma identidade organizada tragicamente em torno da negação de um Estado judeu. Isso significa que qualquer grande projeto depende de medidas prévias que impeçam sua apropriação política. Conforme os EUA retiram o financiamento da UNRWA, devem evitar repetir o erro de despejar dinheiro ocidental sem mudar a política de destruição. Talvez seja por isso que o presidente fala em uma intervenção americana direta no território.
3 - Como mudar a política de destruição? A chave é acabar com a farsa do status perpétuo de refugiado palestino e com a visão violenta do “retorno”, que esteve por trás dos ataques e massacres de 7 de outubro, alimentando gerações de gazenses com a ideia de que Gaza não é seu lar, mas apenas uma base de lançamento para “libertar a Palestina do Rio ao Mar”. Como? Convertendo qualquer noção de “refugiado” e “direito de retorno” em direitos de propriedade em Gaza. Os habitantes de Gaza, independentemente de receberem refúgio temporário ou permanente em outros países árabes, ou mesmo se permanecerem em Gaza, devem ser removidos dos registros da UNRWA como refugiados e devem reconhecer individualmente que não possuem nenhum direito de retorno a Israel. Em troca disso—e somente depois que isso estiver resolvido—cada residente de Gaza receberia uma unidade de direito de propriedade (como um apartamento), a ser concretizado quando Gaza for reconstruída. Esse direito poderia ser utilizado ou vendido, mas seria um direito de propriedade em Gaza, consolidando Gaza como o lar dessas pessoas, e não um trampolim para um projeto destrutivo de “retorno” a outro lugar.
4 - Por fim, se eu fosse a Jordânia, finalmente perceberia o valor de Gaza e faria uma jogada para assumir o controle. Ofereceria refúgio temporário ou permanente aos gazenses—e, em troca, tomaria Gaza como um pé jordaniano no Mediterrâneo. Em seguida, proporia a Israel restaurar a cidadania jordaniana aos árabes da Cisjordânia (revogada em 1988) em troca de Israel permitir duas rotas ferroviárias da Jordânia para Gaza—uma através da Cisjordânia e outra ligando o Mar Vermelho—criando concorrência para o Canal de Suez. (E se eu fosse o Egito, tentaria impedir a Jordânia e tomaria Gaza para mim.) Conclusão: O que a proposta do presidente dos EUA escancara é simples: Gaza é um território incrivelmente valioso. Quem conseguir transformar sua política atual de destruição obsessiva em um projeto de construção e desenvolvimento colherá benefícios enormes—para si e para toda a região.
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